Que representantes do Cristo somos nós?

Os homens e as mulheres do caminho…

Irmãos e amigos, salve Deus!

Os homens e as mulheres do caminho, aqueles primeiros seguidores de Jesus que caminharam pelas estradas empoeiradas não só da Palestina, mas varando distâncias imensuráveis, que abrangiam desde a Ásia Menor até a Península Ibérica, conheceram o verdadeiro significado da provação e do perdão. Viveram sob o peso de torturas inimagináveis, enfrentaram a violência dos poderosos de sua época, suportaram humilhações e sofrimentos físicos que testavam os limites da resistência humana. Eram, como nos relata Paulo de Tarso, “atribulados de toda maneira”, perseguidos, feridos, caluniados.

O próprio Paulo, no final de sua vida havia passado por apedrejamentos, prisões, humilhações e vilipêndios de toda ordem. Já velho, manco, cego de um olho, não hesitava em atender incontinenti quando o testemunho o requisitava. Estêvão conhecera a morte sob as pedradas da turba inconsciente e sedenta de sangue; Quinto Varro, Lívia, Célia, Alcione sorveram, igualmente, cálices amaríssimos.

Contudo, em meio a tamanha adversidade, esses valorosos espíritos jamais perderam de vista o ensinamento supremo do Mestre: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Não hesitavam em estender a mão ao agressor, em oferecer a face esquerda quando feridos na direita, em amar mesmo aqueles que os odiavam. Transformaram a dor em compaixão, a injúria em oportunidade de crescimento espiritual, a perseguição em testemunho vivo do amor incondicional.

Uma reflexão a todos nós…

E nós, que hoje nos intitulamos seus representantes, que nos apresentamos como continuadores da obra crística, como nos comportamos diante das pequenas tribulações do cotidiano? Permitimo-nos ser perturbados por mal-entendidos mesquinhos, deixamo-nos contaminar por fofocas sem fundamento, alimentamos ressentimentos por questões de importância insignificante. Onde está nossa capacidade de perdoar? Onde se encontra nossa paciência diante das imperfeições alheias que são espelhos de nossas próprias?

Que espécie de representantes do Cristo somos nós, quando uma palavra mal interpretada nos leva ao conflito e ao sectarismo? Que tipo de seguidores do Nazareno nos tornamos, quando preferimos o julgamento à compreensão, a crítica à misericórdia? Como podemos nos chamar “homens de boa-fé” se nos deixamos abater por questões tão pequenas diante da grandeza do amor que Jesus nos ensinou? Os homens do caminho, como eram chamados os primeiros seguidores de Jesus, enfrentaram o circo romano, as fogueiras da inquisição, as cruzes dos calvários, e ainda assim mantiveram acesa a chama do perdão em seus corações. Nós, em nossa comodidade moderna, nos perturbamos com um comentário infeliz, com uma interpretação equivocada, com diferenças de opinião que poderiam ser facilmente resolvidas através do diálogo fraterno e da compreensão mútua.

Não raro, temos visto irmãos de anos de jornada doutrinária destilarem-se fel mutuamente por questões pequenas em relação aos ensinos do Cristo-Jesus. Que triste paradoxo a condição em que ainda nos encontramos! Enquanto o Mestre de Nazaré nos legou ensinamentos de amor incondicional, perdão infinito e fraternidade universal, nós, seus discípulos, nos perdemos em labirintos de ressentimentos por motivos que, sob a luz da eternidade, revelam-se insignificantes como grãos de areia diante do oceano.

Quando Jesus, diariamente nos ensina o “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, não estabeleceu condições; não fez ressalvas para temperamentos difíceis, situações adversas ou mal-entendidos. O amor incondicional, em sua essência, transcende as pequenas irritações do cotidiano, as diferenças de opinião e até mesmo as ofensas deliberadas. É um amor que compreende, que perdoa setenta vezes sete, que enxerga no outro não o adversário, mas o irmão em aprendizagem como nós próprios estamos.

Eis o convite que nos faz a própria vida: antes de permitirmos que o fel do ressentimento envene nossos corações, perguntemo-nos se a questão em disputa resistiria ao teste da eternidade. Será que aquilo que hoje nos parece tão importante ainda terá relevância quando fecharem-se nossos olhos físicos e nossos corpos, alquebrados, descerem ao túmulo?

É tempo de reflexão profunda. É momento de questionar nossos valores, nossos comportamentos, nossa verdadeira fidelidade aos ensinamentos do Mestre. O Cristo que carregou a cruz não nos chamou para carregar pequenos rancores. No coração em que entra a mágoa, não há espaço para o amor. O Jesus que perdoou seus algozes não nos ensinou a guardar ressentimentos e mesquinharias. Precisamos aprofundar a ciência do perdão, redescobrir a beleza da tolerância, cultivar em nossos corações a mesma paciência infinda que Jesus demonstra diariamente. Somente assim poderemos nos tornar verdadeiros representantes do Cristo, dignos de seguir as pegadas daqueles corajosos homens e mulheres que deram suas vidas para que o Evangelho Redivivo não encontrasse limites nem barreiras no planeta Terra.

É tempo de reflexão profunda. É momento de questionar nossos valores, nossos comportamentos, nossa verdadeira fidelidade aos ensinamentos do Mestre. O Cristo que carregou a cruz não nos chamou para carregar pequenos rancores. No coração em que entra a mágoa, não há espaço para o amor.

Escola do Caminho

Que possamos, pela misericórdia divina, elevar nossos sentimentos e purificar nossos pensamentos, tornando-nos instrumentos de paz onde há discórdia; de amor onde há ódio; de perdão onde há ofensa. Somente assim honraremos a memória daqueles que nos precederam no caminho e nos mostraremos dignos do nome que carregamos: seguidores do Cristo-Jesus.

No final de todas as jornadas, quando as pequenas questões terrenas se dissolverem como névoa ao sol da manhã, permanecerá apenas o amor que soubemos cultivar e compartilhar. E esse amor, fraternal e puro, será nossa verdadeira herança espiritual, nosso único tesouro imperecível.

Que Jesus nos abençoe a todos. Salve Deus.

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