Liberdade e libertinagem

Amigos e irmãos, saudações! Que Jesus, o amigo caminheiro possa-nos inspirar em mais esse diálogo.

Não há qualquer dúvida de que somos filhos do mais puro amor incondicional. O criador, nas mais diversas manifestações da vida, nos constitui como seres plenamente livres. Esta liberdade é uma dádiva sagrada que nos permite escolher nossos caminhos, moldar nossos destinos e expressar nossa individualidade no imensurável campo da existência.

Contudo, a liberdade anda, invariavelmente, de braços dados com a responsabilidade. Quando tentamos distorcer este presente divino, direcionando-o para as diversas manifestações do egoísmo, em ações deliberadas contra nossos semelhantes; quando permitimos que nossa liberdade se transforme em licença para causar dor e sofrimento ao próximo; quando enfim, confundimos esta liberdade com irreverência, dando largos limites aos nossos direitos por sugestão da arrogância, penetramos tristemente nos limites da libertinagem.

Não nos falta, contudo, orientação. Em cada escaninho da natureza, exemplos abundantes de que liberdade alia-se inexoravelmente à responsabilidade como elementos fundamentais de vida e construção estão a nos inspirar. Basta que meditemos na generosidade do sol e da lua que nunca avançam para além do que lhes é devido. As chuvas não dilapidam o direito fundamental das árvores! As águas dos regatos silenciosos, dos rios caudalosos, das cachoeiras ou cascatas não avançam para além do curso que lhes é próprio; os mares, as montanhas, as belezas infindas da criação que desfilam diuturnamente diante de nossos olhos conhecem limites mútuos. O clima, o relevo, a vegetação, as águas e o ar alinham-se perfeitamente em limites próprios e harmônicos.

É que, como deseja Jesus, o Meigo Messias, cada elemento deste doce planeta atua como mestre em mensagem direta ao imo de cada ser. Cada paisagem deste pequeno orbe trabalha como gentil e didático convite, como um mestre paciente que deseja ver seus alunos crescerem em sabedoria. É Jesus redivivo, que nos envia incansavelmente doces ensinamentos pelo suave convite do amor. Esta é a pedagogia do universo – uma educação cósmica que nos convida ao autoconhecimento e à reflexão, ao autoexame. É a própria vida sussurrando em nossos ouvidos: “Observe, reflita, escolha melhor”.

Mas quando nos tornamos surdos a esses chamados da existência; quando a indiferença contumaz endurece nosso coração aos apelos sutis da vida, quando persistimos em nossos caminhos destrutivos ignorando os sinais que nos são oferecidos com tanta generosidade, então somos então constrangidos às medidas de contenção que nós mesmos exigimos por meio de nossas escolhas persistentes e desequilibradas. É nossa própria vibração discordante que atrai essas limitações; nossa própria resistência ao aprendizado tornam necessárias experiências mais intensas na dor a fim de que possamos, finalmente, compreender.

Eis porque se tem visto verdadeiros prodígios da arte antiga, como simples artesãos anônimos, a ladearem com a fome e a miséria. A Afrodite de outrora, deixando-se levar pela desmesura da vaidade, aprisionada agora em corpo deformado, causando mesmo estranheza e repúdio aos demais. Destaques da ciência, noutros tempos idolatrados, como anônimos trabalhadores aos quais nenhum valor é atribuído. Ricaços da antiguidade, agora experimentando a pobreza extrema, sofrendo, muitas vezes, humilhação com a qual granjeiam a côdea de pão que lhes vai mitigar a fome de hoje, sem, no entanto, saberem como será o dia imediato. Nada disso é castigo divino, como podem ainda pensar alguns, mas obras de cada um de nós.

A liberdade que nos é concedida permanece intacta, mas suas consequências se manifestam com a precisão de uma lei inexorável. Não somos punidos por uma força externa arbitrária, mas sim educados por uma justiça perfeita que honra tanto nossa liberdade quanto nossa responsabilidade pelo que praticamos. Desta forma, não é uma força externa que nos constrange à enfermidade, mas nossos próprios atos; Ninguém nos condenou à fome temporária, às dificuldades financeiras, profissionais, sentimentais ou familiares, mas nossa própria extravagância inconsequente quando insistimos em exceder nossos direitos na grande estrada da vida.

É sábio compreender que a liberdade não se dissocia jamais do bem comum e isso nos impõe, a todos, responsabilidades diárias indispensáveis. Quando nossa individualidade se expressa através do amor e não da violência; quando escolhemos ser instrumentos de elevação ao invés de destruição, o coração está junto aos nossos amigos espirituais. Esta é a grande lição que a existência nos oferece: somos livres para escolher, mas não livres das consequências de nossas escolhas. E nesta aparente limitação, encontramos, paradoxalmente, a verdadeira expansão de nossa liberdade – aquela que nos eleva em direção ao nosso potencial mais nobre e autêntico.

Se nos visita, pois, a dificuldade material; se não encontramos a ventura sentimental; se a vida familiar não encontra harmonia; enfim, se as dificuldades sobejam-se sobre nós, cabe-nos, tão somente, a compreensão de que estamos sorvendo as consequências do que nós próprios cultivamos um dia. A paciência deve agir em nós como pão diário de efeito calmante. Jesus está conosco. O travo amargoso de hoje será mel amanhã…

Jesus nos abençoe a todos. Salve Deus.

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