Primeiras experiências com Darkus-Kan
Meus irmãos, salve Deus.
Muitos mestres me pedem para que eu fale mais longamente sobre um grande e velho amigo: o Lama tibetano Darkus-Kan. Mas como posso eu, falar de algo que não compreendo? Como posso falar sobre esse amigo e instrutor que é muito mais do que as palavras podem expressar? É como se eu mergulhasse no oceano e depois me pedissem para falar sobre todos os mistérios de suas profundezas. Que sei eu? Que sei sobre esse nobre espírito, se ainda sei tão pouco sobre mim mesmo?
Contudo sua amizade é algo que se tornou para mim, um grande amor, assim como suas lições, que com um tempo foram se calcificando dentro de mim, como a formação de uma grande estalactite, que nasce aos poucos, gota a gota.
Aquele mestre franzino me ensinou a pensar, a aprender e a viver. Suas lições, seus ricos ensinamentos ficaram gravados em meus arquivos mentais. E mais, além disso, ele me ensinou a ramificá-los para o coração. São os dois estágios do conhecimento: conhecer e saber; informação e consciência.
Foram muitas lições, muitos ensinamentos, sempre a me inserirem na clareza de um raciocínio lógico e simples, nunca em conclusões precipitadas e imediatas respostas, sempre buscando a compreensão e percepção da verdade sem nenhuma prevenção.
Quem é Darkus-Kan
Darkus-kan é um manto amarelo, um Lama de alta hierarquia. Sua idade se aproxima dos 85 anos. Ele viveu no Tibet, no mosteiro de Lhasa até a invasão dos chineses. Deslocou-se junto com outros para as cavernas dos Himalaias – “o limite entre a terra e o céu”, devido à altura em que estão localizadas, encimadas pelas nuvens e cobertas pelo gelo.
Sempre bondoso e paciente, Mestre Kan encarna a figura da paz; na harmonia, seu caminhar é lento e suave; seus gestos, tímidos; seu olhar, complacente e profundo, revela toda sua nobreza, além do sorriso maroto, sempre puxando os músculos labiais para rir sem abrir a boca…
Quem muito dorme, não vê a vida passar
Certa noite despertei por um puxão, imediatamente o vi, dizendo:
Acorde Pequeno Lama, quem muito dorme, não vê a vida passar e com ela não aprende. Meio assustado esfreguei os olhos tentando me localizar e tomar pé nos fatos. Ele continuou chamando-me e dizendo:
– Dormir é uma arte, todos dormem, poucos sabem dormir, não se dorme com a mente, quem pede e necessita de descanso é o corpo constituído de matéria densa, então, quando dormir libere tua mente do corpo como um motorista que deixa o seu veículo na garagem e busca outro canto de repouso.
– Dormir, pequeno mestre, é um estado de descanso do veículo, e não do condutor. Se o motorista cansa mais que o veículo, então, o seu veículo não lhe é útil. A mente não se cansa, por ser um corpo sutil constituído de matéria não sólida, sua natureza está no existir, na vida do Eu-Superior, e não presa à transitoriedade da matéria densa, que se desgasta, sofre mudanças constantes de estados sofrendo alterações com o tempo, com as circunstâncias.
Ao dormir, deve desligar o motor do teu veículo; não o deixe funcionando ou o teu veiculo não conseguirá descansar. Quero dizer que ao dormir deve desligar o seu subconsciente do corpo ou extra-sensorial, para que sua mente, livre de interferências, possa acompanhar o teu espírito na viagem, registrando toda a paisagem por onde passar e te ajudando na construção da vida futura.
Quando estacionar o teu veículo na garagem, Pequeno Mestre, é melhor que o limpe, lavando das sujeiras comuns do caminho percorridos naquele dia, para que a sujeira de hoje não se una com a de amanhã, impregnando e dificultando a tua lavagem. O acúmulo dessas energias é voraz ao teu equilíbrio físico–psíquico, saibas que tens um corpo físico que lhe exige limpeza e cuidado, faça a mesma operação com o teu corpo psicossomático, vestidura de tua alma.
Se limpares o teu corpo psicossomático, todo dia, não necessitas dos elementos químicos pesados para retirar as impregnações acumuladas com o tempo, é simples: água. Porque sua composição química é leve e seus elementos extraetéricos agem também na limpeza do extrassensorial.
É o mesmo procedimento, de limpeza, do teu corpo físico, mas suponhamos que não veja uma mancha de sujeira na palmilha de teu pé, então, ela ficará ali. O que os teus olhos não vêem, sua mente não registra, e, não percebendo, não age. Procure ver o teu subconsciente, se necessário dê um nome a ele, mas deve guardar só para ti, para que outros conhecendo tua porta de entrada não queiram dispor dele. Teu subconsciente como é conhecido no ocidente é o escritório de comando da tua oficina psicossomática, ele possui dispositivos eletrônicos que agrupados em circuitos regionalizados recebem todas as mensagens de tua atual vivência. Cada mensagem é como uma notícia, se ela é boa todo o sistema se organiza e se é ruim todo seu sistema se desorganiza. É um movimento vibratório, que se desloca em ondas vibracionais carregadas de tuas emoções, sensações. A alegria emite uma onda vibracional, a tristeza, outra onda vibracional; cada vibração carrega-se de energia atômica. Então, há verdadeiras explosões vibracionais na terra imaterial do teu espírito, convulsionando todo o seu sistema elétrico, paralisando o teu raciocínio, levando-o a um quadro confuso de incompreensão, deixando sem luz, um “blecaute”.
Separe-se do corpo quando estiver fazendo o asseio dele, veja uma espécie de pequena nebulosa, que gira em torno de ti, num movimento giratório, ela é clara, mas no final do dia provavelmente está com tons acinzentados ou muito escuros. Ela gira em torno de ti como a Terra gira em torno do sol, é um pequeno universo criado fora de ti, que vive porque tu Pequeno Lama, vives, e obedece ao mesmo movimento de rotação. Então, comece a limpeza do teu pequeno universo em desenvolvimento, que te rodeia, passe as mãos sobre sua cabeça como se estivesse com um pedaço de pano limpando sua mesa, desça até a altura do teu plexo solar, que é o centro do teu universo em expansão, toque os seus três dedos centrais e esticando os braços para baixo, estique-os como se quisesse que eles se desprendessem das tuas mãos. Essa é a atitude física, tua atitude mental é a de um servidor fazendo limpeza de sua repartição. Deixe que a água caia sobre tua cabeça e escorra por todo o teu corpo fluídico; se te concentrares, verás pequenas formas subconscientes que apareceram, pessoas, lugares, situações, sentimentos, sensações, é uma espécie de fotografia em negativo, arquivada. Amigos e inimigos, afetos e desafetos, sentimentos e ressentimentos, liberte suas vítimas e abrace teus amigos, para que teu sono seja descanso para o teu corpo e conhecimento para tua mente consciente. E para finalizar é bom que faças essa limpeza nu, despido de si mesmo, para que não haja nenhuma interferência vibratória, a não ser a da água.
Agora, pequeno mestre, iniciamos a tua obra, a grande obra interior do autoconhecimento. Andando numa construção lenta, mas gradual, continua e duradoura, e iniciaremos a tua construção por fora de ti, na compreensão exterior do teu universo físico. Há muitos conflitos em ti, muitas dúvidas, natural no homem–matéria ocidental; tuas incompreensões tiram-lhe o rumo certo do teu raciocínio, que é a bússola do navegador, mostrando-lhe a rota a ser seguida. Devolvendo o teu raciocínio lógico iniciaremos o teu edifício interior.
Pensei comigo: Agora? Depois de um ano e meio… Aqui sentado. Já teríamos erguido uns cinco andares.
Ele sorriu mentalmente.
– Teu estado alegre e brincalhão me contenta pequeno lama, me trás de volta recordações da minha pequena idade. Tuas energias são para mim um doce alívio a esse corpo velho e cansado. Tu me doas vitalidade e eu te doarei vivacidade. Tua espera foi necessária para que testada fosse a tua perseverança. Não alcançamos os nossos objetivos sem determinação, dedicação e sacrifício próprio. Essa é a escola iniciática de Krishna, Buda nos ensinou isso, e devemos meditar sobre os seus ensinamentos que foram construindo um caminho. Sem o exercício meditativo, ficamos sentados, observando o caminho, mas sem conhecermos e desfrutarmos da viagem.
Agora cala os teus pensamentos para que os meus possam ser ouvidos por ti, não em substituição aos teus, mas em complemento aos teus. Tudo deves ser examinado por ti, não devendo aceitar aquilo que somente ouves, teste, experimente e questione, ou as sementes que eu lhe oferecer serão depositadas e logo esquecidas; deves semeá-las, e o plantio será a meditação raciocinada que irá construindo o teu primeiro andar. O da compreensão do mundo exterior. Veja pequeno mestre, tudo que terás agora a fazer é desenvolver tua capacidade de raciocínio.
O homem tem uma inteligência e a usa na confecção de muitas coisas, também, na descoberta de muitas outras coisas. É uma inteligência pensada, contém um estudo, uma percepção física. Isso o diferencia dos outros seres, contudo, isso ainda é uma pré–ciência, por que não existe na inteligência pensada a lógica de um raciocínio elaborado, baseado num conhecimento superior, então, assistimos a um espetáculo pouco admirável, o homem recria tudo na lógica do seu próprio mundo, comporta-se como um tolo em seus pequenos laboratórios unidimensionais. E é incapaz de satisfazer-se com suas recriações, por que a pré–ciência está no mundo do homem pensante e a lógica do raciocínio no mundo do homem espiritual.
Pensar, Pequeno Mestre, não é raciocinar. Todos pensam, mil coisas: pensam em ser felizes, mas não sabem o que é felicidade; pensam em obter tudo na matéria, depois não sabem o que fazer com o que obtiveram, e esse é o mal de vosso continente: pensar sem raciocinar. Então, vem a ação antes do estudo de suas consequências, gerando desequilíbrios, infelicidades, e todo tipo de mal estar. Tu deves inverter este procedimento; raciocinar antes de pensar e agir. Essa prática lhe colocará verticalmente na sintonia do movimento cósmico, onde tudo é harmonia e equilíbrio. Esse proceder alinhará verticalmente tua natureza na obediência e inclinação do mesmo eixo. Corpo, alma, espírito, personalidade consciente e personalidade inconsciente.
A meditação raciocinada será o seu médico e o tempo o seu instrutor; deves conhecer a tua realidade, aquilo que teus olhos veem e registram. Aprova ou desaprova, o simpático ou antipático a ti, e sempre questionando o porquê dos fatos, o porquê dos teus sentimentos, da tua tristeza, do teu desequilíbrio, da tua insatisfação, depois se sente do modo que te pareça agradável e raciocine, enxergue a tua realidade e destrua as tuas ilusões que vivem no país construído por ti, que chamaremos de “o país dos sonhos”. Ele é abstrato, não é concreto, nem objetivo e nem realista. Ele lhe induz, pequeno mestre, às buscas irreais que lhe distanciam dos seus reais objetivos. Então, é assim que ele funciona. Eu queria ser aquilo, queria possuir aquilo, queria alguém assim, e enfim… Esse é um mundo subjetivo, construído pelo teu poder mental, são criações irreais que lhe prendem como correntes magnéticas, gerando dor, sofrimentos e desequilíbrio, porque falta a lógica do raciocínio. “Seria aquilo bom para mim? Sim, não”. A conclusão é um caminho, que terá que percorrer sozinho; não posso ir nesta viagem contigo, mas saiba que haverá sempre um deslocamento; se caminhamos em busca do irreal, teremos que forçosamente fazer o caminho de volta.
A meditação te fará conhecê-la. Porque não se vence um inimigo que não se conheça, e não se veja; conhecendo-a, então, saberás com quem estás lutando e as armas que deverás usar nesse combate entre o bem e o mal, entre o eu inferior e o eu superior.
Salve Deus, Pequeno Mestre, tu serás desenvolvido à tua casa, que é o teu corpo físico, lembre-se de amá-lo, para que não se descuide e procure dele zelar. Volte, volte à morada de teu espírito sob as proteções de Krishna.
Salve Deus, meus mestres. Aquela noite foi a primeira vez que conversamos depois de um ano e meio de espera. Durante este tempo, sentava-me numa sala do mosteiro de Lhasa e a minha frente Ele meditava como se o tempo estivesse sob seu inteiro dispor e controle, depois soube que Ele ali, estava somente em corpo fluídico, seu corpo físico estava nas cavernas do Céu, como Ele gostava de chamar, entre as nuvens do divino santuário.
Assim fui construindo o meu primeiro andar do meu edifício interior e, na medida em que ia compreendendo a lógica dessa existência física, fui me elevando ao segundo andar, que chamaremos de “percepção do mundo interior”, onde começamos a desenvolver os nossos sentidos extra-sensoriais, fui então percebendo outro universo que Darkus-Kan chamou de percepção tridimensional da vida física. Vê por três ângulos e analisar com mais clareza minha própria vida.
Salve Deus!
Com carinho.