Pequeno mestre. Deves desenvolver uma atitude de vida compatível com a natureza do teu espírito. Ainda não compreendo, como sendo tão rico, insistes em viver como pobre.
Deves abandonar teus maus hábitos ocidentais, que ensinam a desobediência, a indisciplina, à imprudência; que pregam a ganância, a materialização dos sentimentos. Isso é uma estupidez. Deves apagar todas essas coisas do seu subconsciente que lhe fazem ser um caçador cruel de si mesmo, um tolo, realmente um tolo.
Tudo que tens a fazer agora é limpar a tua própria casa interior, onde tudo se inicia, tornar serena e sem nuvens sombrias a tua atmosfera mental, para que sintas vontade de viver dentro de si mesmo, para que sinta o prazer de ali estar, confortável, seguro e confiante, no lar prateado da tua alma. A maioria dos homens não gosta de sua moradia. Então vivem sem alma, transgredindo seus sentimentos nobres. Tornam-se então tolos, porque se escravizam, quando podiam ser senhores de seus padrões mentais.
Nada é mais triste, Pequeno Lama, do que ser escravizado no submundo das paixões e dos desejos inferiores, vivendo num processo vampiresco de tomar a moradia dos outros, como se eles fossem pensão. Então se servem deles, escravizam e são escravizados pelas paixões e desejos inferiores, sentimentos não nobres. Esses sentimentos são alimento para vida inferior gerando toda sorte de desequilíbrios psíquicos, físicos e morais.
Pequeno Lama, deves curar primeiro a si mesmo para tencionar a cura dos outros. O exercício mediúnico é eficaz, doar e receber, contudo, não se trata somente da prática, mas de como ela é feita. Tua tarefa é subtrair da prática a tua evolução, o teu aperfeiçoamento. A Doutrina para ti deve ter a princípio um cunho educativo e seus princípios devem inibir toda ação comportamental mal educada, em relação ao outro. Deves transformar sua atitude psíquica, ajustando o teu estado mental num reposicionamento lento, gradual e contínuo.
Não corras atrás do conhecimento, nem tenha ansiedade em conhecer a verdade. Cada verdade conhecida exigirá de tua consciência uma atitude correspondente. Ela deve nascer de um procedimento natural, para que concebida, possas compreendê-la e desenvolver-se numa manifestação espontânea, verdadeira, e não correres o risco de emoldurá-la num comportamento falso, exterior.
Teu pequeno cérebro, tua energia psíquica trabalha hoje contra a tua felicidade, porque o criastes para não lhe obedecer. Ele está sob o domínio de tua alma, que é a vestimenta do teu ego. Teu pequeno cérebro está sob o julgo da matéria, é o resultado do teu crescimento, desenvolvimento e amadurecimento físico.Teu cérebro é o que os ocidentais chamam precariamente de personalidade.
Nele foi escrito o que os outros pensam, gostam e lhe disseram ser bom ou não, feio ou bonito, certo ou errado, abrindo somente a tua percepção do mundo das formas, do pequeno mundo exterior, terra.
Agora deves enfrentá-la, transformá-la, como um inimigo que criaste. Precisas combatê-la como um guerreiro trava batalha mortal contra seu inimigo. Tens a obrigação, Pequeno Lama, de dominá-la, comandá-la. Para isso dê a ela um nome, um corpo, deixando-a viver separada de ti. A tua personalidade é a mínima manifestação da tua alma imortal, contudo, ela é uma grande ameaça a tua arquitetura existencial.
Lembre-se que sua única função é dar alguma expressão a essa matéria inerte, densa. Ela hoje é a senhora absoluta dos teus pensamentos, trabalhando na grande fábrica dos teus sentimentos se comanda todo o seu sistema nervoso, que é o escritório do teu equilíbrio, tornando-o pobre, muito pobre, a ponto de chegar aqui vestido como mendigo, quando aqui já fora rei.
Estás aqui não para aprender, mas sim para recordar. Acordar para a tua individualidade, a verdadeira vida, porque tua personalidade é pequena, e o grande não cabe no pequeno. Ela está doente, confusa, fora do equilíbrio vertical, fechando a tua percepção espiritual, obstruindo os teus canais espirituais de alimentação, organização e assimilação do teu verdadeiro ser que habita e está escondido nesse corpo carnal, o teu “eu” superior. Ela está, pequeno mestre, envolvida por um manto ilusório, que são padrões desumanos. Nela não está havendo luz, porque não há lógica em seu raciocínio, nem clareza, construindo em volta de ti uma vida falsa, presa a um comportamento superficial, numa visão de valores e sentimentos deturpados. Isso perturba teu sono, perturba também o teu equilíbrio, pois tua alma está acorrentada às armadilhas psíquicas que construíste ao longo do caminho. Falta em tua vida verdade. Porque a verdade, pequeno mestre, é o principio de todas as coisas.
Dizem os antigos que um príncipe ardiloso e mortiço procurou um ancião de um templo em busca do verdadeiro conhecimento, em busca da verdade da vida, cansado de sua andanças pelos caminhos das sombras. Sua esperança era o ancião de Lhasa.
Ao chegar encontrou o ancião meditando debaixo de uma árvore que, florida, exibia toda a sua beleza e graça.
O príncipe acordando-o, perguntou-lhe onde encontraria a verdade.
– Que verdade, pergunto o ancião?
– A verdade da vida. Respondeu o príncipe.
– Que vida? lhe indagou o sábio de Lhasa?
– Esta que estou vivendo, que estamos vivendo. Disse-lhe o monárquico.
– Não há verdade na vida que procuras. Não há verdade no príncipe e nem no ancião, nem no que vives e nem no que iremos viver, como também os nossos descendentes.
– Como não há? Eu sou um príncipe, tenho poder e sou obedecido, cortejado e respeitado.
– O Príncipe é o que pensas ser. Mas eis o que desconheces e o que desconheces é o teu maior inimigo.
A verdade está no que ainda não descobristes, está numa região em que os teus olhos não podem ver, tuas mãos não podem alcançar e o teu poder não pode haver.
– Onde então? Diga para que eu a encontre e a encontrando possa possuí-la.
Estás exatamente, príncipe, na essência do teu sentir. Por que a verdade não poder ser vista, ou tocada, somente pode ser sentida.
O sentir é a região da verdade. Porque os teus sentimentos lhe vestem de tua verdadeira personalidade, que está sempre oculta e se manifesta nessa expressão mínima que chamais de vida – a prisão de tua alma aflita por se libertar.
– Então, fala-me quem tu és?
– Eu sou a morte dos sonhos de uma alma errante que transmigra há milênios, de corpo em corpo, em busca de paz e sossego, vestido hoje como mendigo nesse corpo velho que os tolos chamam de ancião.
Disseram-me que tu conheces a verdade! Diz-me ou posso mesmo matá-lo!
– Não se mata o que morto foi, nem morto é aquele que acredita morto estar, como a verdade não é o que penso ser ela para mim…
– Não descobrirás o que procuras encontrar aqui. Ela não está em mim, mas em ti. Queres a verdade?Sejais então como eu. Um mendigo do tempo não a pedir, mas a ouvir a sua própria voz interior que se comunica pela linguagem do sentir, podendo ser ouvida somente por aqueles que a desejam encontrar…
– O Mestre do Oriente fez, enfim, uma pausa, como a me dar tempo para absorver seus ensinamentos, dizendo:
– Medite Pequeno Mestre, medite e encontrarás a tua verdade por que a minha não serve para ti.
Então mestres na desarmonia que vivia, pensei:
– Ele passou um ano e meio sem falar, e agora parece que não vai mais parar.
– Teu humor me diverte Pequeno Lama, mas não te ajudará neste instante. Tua mente é parecida com um cavalo selvagem desenvolvida para não pensar, e sim para questionar e discutir, mesmo o que não conheces, criando uma pré-rejeição daquilo que, engraçadamente, desconhece, ignora. Como posso questionar o que não conheço? É engraçado esse comportamento mental. É mesmo tolo.
– Assim são os homens da sua terra, seus instrutores. Eles falam e conversam sob uma forma estranha que chamam de “teoria”. Suposições é o que eles ensinam; meramente suposições. Falam do que não conhecem, escrevem livros e são chamados de PHD’s. Doutores em quê? Nas ciências de pré-suposições. É mesmo “in situ” pequeno mestre, um grande estilo… sorriso…
Assim é a tua mente acanhada. Tu falas como eles, briga como eles, come como eles, dorme como eles, é mal educado como eles e discursa como eles.
Pensei imediatamente:- mal educado eu? Ele me deixa muitos anos aqui sem sequer falar comigo e eu que sou mal educado? Era só o que me faltava…
– Quem é você, Pequeno Lama? Eles são o sistema e você a vítima. Não seja tolo. Você aparentemente parece ser humano; se veste como um, tem a forma de um, mas é só aparência; quando pensas e falas se parece com um ruminante; pensas remoendo, girando em torno de ti sem sair do lugar. É mastigar o que mastigado foi. Então não há sabor, prazer em viver,porque nada se renova. Eis um velho maqueando um velho com roupas novas.
– Fiquei rubro. Aquelas palavras soaram nos meus ouvidos com o significado de “idiota”. Minha mente se desequilibrou; senti-me ofendido e decidi agredir respondendo à altura:
– Não volto mais aqui, chega… Chega. Para que isso tudo?
Você é inteligente Pequeno Mestre, porque o teu espírito te faz inteligente. Essa é a razão de estares aqui. O teu espírito, e não essa expressão insignificante que neste instante fala sem ter a menor serenidade nas palavras, nos pensamentos,levando-o a agir imprudentemente.
– Eu não queria estar aqui, quero somente ser eu mesmo, quero a minha vida de volta. Estou sofrendo, desequilibrado, isso me desequilibra. Eu só queria ser um Apará, incorporar Tiãozinho, meus Nagôs. Vou embora, eu não quero e não preciso disso, ser ofendido…
Dizendo isso, sorri aborrecidamente… Então quis sair resmungando…
– Cala-te pequeno burryd. Chegar de ouvir as tuas inconscientes declarações. As tolices de teus desequilíbrios. Tolo, muito tolo é o que estás sendo…
Salve Deus! Meus Mestres. Aquele era eu no meu direitismo antagonista perdido entre dois mundos, sem saber o que fazer, para onde ir, disperso num mundo de ilusões e aparências. Aquelas eram as verdades que possuía e a elas me agarrava temendo o que adviria.
Hoje, ao reler as minhas memórias, os meus escritos, sinto-me em paz. Não por ter simplesmente me transformado, mas por ter compreendido a tempo a necessidade de renovar os meus pensamentos e sentimentos, as minhas verdades.
Muitos se perdem pelo excesso de conservadorismo. Não é que as verdades que possuímos não tenham expressão; elas possuem o seu valor, no entanto, como tudo que envelhece, tende a perder o seu valor, seja pelo tempo e o desgaste ou pelo desuso, a desatualização.
Assim ele continuou:
– Pequeno Mestre, aprenda com a natureza; ela é a grande universidade do homem; ela não mente, não elabora teorias, não é hipotética e nem hipócrita; a natureza não ensaia regras de comportamento, não é interesseira, intencionada. Ela é a manifestação pura da verdade. Cada pedra é o que é e irradia sua natureza espontânea extrafísica, astral. sem maquiagem, retoques; assim são as árvores, as folhas, as flores e os animais. A natureza, Pequeno Mestre, não engana, não destrói, não mata. Nela tudo se manifesta pelos princípios, num processo contínuo, sem interrupção; sua expansão magnética é natural, livre e sincera.
‘Estude e medite Pequeno Mestre’. Era sua retórica não no sentido das palavras e discursos e sim dos pensamentos e sentimentos. Ele era o que ensinava e sua filosofia era a coerência. Muitas vezes alertando-me para a incoerência entre o falar e o viver.
– Eis aí o que todos fazem, Pequeno Mestre. Não seja como os tolos que ensinam mas não exemplificam. Se não puderes dar o testemunho melhor calar do que se ver em contradições e com elas tornar-se desacreditado.
Sempre tolerantemente ele me guiava pelos caminhos da transformação interior, o caminho do iluminismo, e, dia a dia, penetrava na grande cabala do “Eu-superior”, onde tudo é simples, lógico, ou, como dizia ele: “rudimentar; rudimentar Pequeno Lama…”. É mesmo primário.
Mestres, Salve Deus, a compreensão da verdade é algo inalcançável pelo psiquismo complexo do homem físico, que vive numa espécie de labirinto mental, perdido em galerias externas sem ligação para o universo interior, emoldurado e preso a normas e padrões puramente humanos, em análises simplices de fatos relacionados à vida sensorial sob uma única percepção: o estudo da simples visão humana, singelas suposições, que nascem da observação dos fatos, das manifestações e acontecimentos que são estudos que nascem através de pontos de vista eqüidistantes ou seja, do meio do processo, e não dos princípios de causa que disciplinam todos os fenômenos da existência, explicando-os e tornando-os então compreensíveis por uma lógica convincente e indiscutível.
O sétimo verbo celeste da criação, ou manifestação divina, inspiração, diz que o homem recebe as emanações especiais no momento de seu nascimento, A primeira é a inteligência para que reine sobre toda a Terra e toda a natureza inferior. Essa emanação é o poder intelectual e esse poder faz do homem imagem à semelhança de Deus; o poder intelectual é a capacidade mental do espírito, capaz de desenvolver três forças, que se entrelaçam formando o centro intelectual.
A primeira é a inteligência; a segunda é o raciocínio; e a terceira, força assimilatória, intrínseca à sensibilidade, desenvolvimento dos sentidos – centros de decodificação vibracional – onde se manifestam forças vibratórias do cosmo.
Esse poder é concedido ao homem na sua quarta idade e não lhe devia servir somente para o domínio da matéria…
– Pequeno Lama, tudo que existe no espaço é manifestação criadora. Essa manifestação espontânea é conseqüência natural do pensamento divino, que se movimenta por ondas vibratórias, pois todas as forças são vibrações emitidas de um pólo para o outro, do superior ao inferior num processo de dentro para fora e de fora para dentro, num movimento centrífugo e centrípeto.
Quando os antigos sábios viviam no grande continente, a “Mãe Mu” há setenta mil anos, eles tinham todos os conhecimentos das ciências ocultas; os antigos não eram dissimulados; suas mentes eram simples e por isso inteligentes; não mistificavam ou mapeavam a verdade. Eles diziam que existem dois tipos de vibrações: as agudas, e por isso altas e as baixas vibrações. Uma vibração alta anula e repele as mais baixas, assim como um poder maior sobrepõe-se ao menor. As vibrações em movimento formam correntes repletas de energias magnéticas. Grande parte se movimenta na atmosfera terrestre; outras ultrapassam os limites do plano físico, movimentando-se no etérico juntando-se às outras. Estas formam-se e constituem-se no plano do espírito eterno.
São, Pequeno Mestre, grandes ondas criando o que os ocidentais chamam de noúres plasmáticas, agindo e interagindo no psiquismo dos humanos, no psiquismo intermediário da alma e na mente do espírito. Porque, Pequeno Lama, o homem é capaz de produzir vibrações altas e baixas; as vibrações altas carregam-se de teor espiritualizado – partem de sua essência pura, assim como as vibrações baixas nascem de seu instinto animal. Por essa razão é que, quando o homem domina sua mente, seus pensamentos, controlando então sua própria força, ele anula ou repulsa todas as forças terrestres, do homem animal, passando a viver a supremacia da inteligência, do raciocínio e da sensibilidade espiritual, assimilando a verdadeira função da vida e seus elementos disponíveis.
E continuava:
– Os antigos conheciam os segredos da magia físico-etérica e espiritual. Um exemplo comum para que não se esqueça é a força gravitacional, que os velhos sábios chamavam de força magnética fria, que todos conhecem com o nome de gravidade. Essa ciência chamada de elevação vibracional (projeção de forças) acima da força magnética fria da terra poderá anular seus efeitos. Porque, pequeno Lama, o calor torna inexistente o frio, anulando seus efeitos. Chamamos esse calor de esfera Mó – Célula Crística – onde se localiza o Pequeno Sol, herança nos dada do Sol Maior – o Cristo Solar. Essa é a força que nos atrai e prende nossos corpos à Terra. Quando uma força magnética é isolada a matéria passa a não ter nenhum peso, podendo flutuar no ar, caminhar nos céus ou por cima das águas, como o exemplo do sol, dos planetas e estrelas, que não possuem peso no espaço. Jesus, o Grande Mestre, o Santo de Luz nos prova essa magia, caminhando sobre as águas. Operava simplesmente uma ciência antiga, praticada e conhecida pelos sábios que formavam a primeira civilização da Terra. É necessário que o homem reencontre a velha ciência nessa nova era, pois sem ela o homem não pode conceber a verdade…
Sentado naquele “céu” eu ouvia a voz daquele Anjo; embevecido, eu bebia a água dos sábios na fonte viva da sabedoria; sentia-me uma criança pequena diante de um deus de conhecimento. Ele me falava tudo com a mente, sem o uso da palavra, como se seu silêncio tivesse voz. Então interrompi sua narrativa, aproveitando uma pausa em seu raciocínio, perguntando-lhe sobre Isis, o Santo:
– Jesus viveu no Tibet?
– Sim, Pequeno Mestre. Aqui entre nós Ele viveu, enquanto desapareceu no mundo adolescente, retornando logo depois à sua pátria nascedoura. Mas não fujamos do propósito desta noite. Noutra ocasião conversamos sobre esse assunto…
Aquilo aguçou minha curiosidade, mas calei-me obedecendo como sempre acontece quando o maior determina o menor, não pela vontade própria, mas pela imposição da força moral e bondosa daquela entidade.
Darkus-Kan completara seu propósito naquela noite. Falou-me sobre os perigos da alta magia e me dispensou logo após a leitura de um papiro que pertencia a um sacerdote do Continente Perdido. Todas as ocasiões em que invocasse a força mãe de todas as ciências, seria necessário, anteceder numa preparação e num juramento para se entrar no círculo cabalístico dos grandes iniciados.
Dizia ele (sem exatidão):
Divino poder oculto! Ciência mãe do indivisível, emanação do pensamento criador!
Peço-te a expansão da minha visão, dos meus sentidos, da minha força!
Que se unam os elementos da vida e da eternidade para a grande obra de Deus.
Subo a esse altar sagrado invocando a força, o poder dos meus ancestrais que comandam a grande roda cabalística do conhecimento, ofertando meus olhos, boca e ouvidos, para que sejam os testemunhos vivos do caminho no amor, no bem, na fraternidade.
Oh! Poder encantado, magia mística!
Nos irmane para o Grande Assu-Hi, porque em Ti vive o Reino, a Glória, o Poder.