Amigos e irmãos, salve Deus! Essa é sem dúvida a principal questão que vamos aqui discutir: quem comanda o meu pensamento? Por que não sou dono dele? O que acontece? Por que não penso o que quero? Por que algo me força a pensar sobre o que não quero, tantas vezes sem nem me pedir licença? Por que algo chega e, simplesmente, me toma? Diante disso, só podemos chegar a uma conclusão bastante lógica: alguém se apossou do meu pensamento ou alguém se apossou do meu sistema psíquico, o que é o mesmo. Parece óbvia essa conclusão: se penso o que não quero pensar, alguém está comandando o que penso.
Contudo, daí nasce um novo e fundamental questionamento: se alguém, de fato, se apossou, quem é essa pessoa ou essa entidade que não conheço, mas que parece ser dona de todo meu sistema nervoso central? Adiante, baseados nos apontamentos dos mentores, nas cartas de tia Neiva, vamos procurar responder e aprofundar essa questão. Antes, porém, convém observarmos a ação dessa entidade na nossa vida. Porque ela – concordemos – manda, desmanda, coordena, no momento que deseja, todas as minhas reações. Se alguém me desagrada, sinto os incômodos da contrariedade; quando me ofendem, sinto raiva; se me elogiam, envaideço-me. Quando convém, minto. De forma mesquinha, comporto-me diante da vida. Pois bem, amigos. Contrariedade, raiva, vaidade, mentira, mesquinhez são traços dessa entidade.
Observemos, atentamente, meus irmãos: alegro-me e infelicito-me constantemente. Chateio-me com facilidade. Altero-me como uma criança se altera diante do bolo de aniversário ou da proibição paterna. Um atraso, tantas vezes, é suficiente para roubar minha harmonia. Se o colega de trabalho insulta-me, a minha reação é imediata. Pago na mesma moeda. Mesmo que eu não profira as palavras, o meu pensamento age. O meu sentir raivoso vai em sua direção e o encontra. Na vida doméstica, entre casais, a dinâmica é a mesma. Entre irmãos, entre amigos, enfim.
Essa suscetibilidade, essa instabilidade é reveladora. Significa que estamos à completa mercê do que acontece; estar à mercê de circunstâncias coloca-nos na triste condição de escravos do que sucede na vida diária. Parece-nos que temos um código dentro de nós, uma espécie de cardápio no qual consta tudo de que gostamos e tudo de que desgostamos. Nossa satisfação diante da vida, nosso humor, nossa paz está quase inteiramente ligada a esse cardápio. Estamos bem se acontecem coisas que nos agradam. Ficamos mal quando acontece o contrário. Se sua vida é mais ou menos assim; se minha vida é mais ou menos assim, não resta dúvida: somos escravos. Somos escravos porque não estamos no comando, mas somos comandados pelas circunstâncias. Não somos donos de nós mesmos. Simples assim.
Observemos que para cada situação diária, aparentemente boba, vamos perceber uma reação de nossa parte, de sorte que chegamos a um ponto em que reagimos a tudo. Essas reações são alterações em nosso estado natural. Toda vez que reagimos, saímos de nós, perdemos nossa harmonia. Reagir não é algo que possa gerar-nos equilíbrio. Ao contrário, a reação envolve-nos em teias desarmônicas cuja extensão não podemos mensurar. Reagir, amigos e irmãos, é entrar em demanda. É abandonar as linhas brancas e penetrar no revide, no olho por olho. Isto deve estar claro. Não estamos fazendo apologia da indiferença. Nem queremos sugeri-la como forma de conduta. Longe disso. O que tentamos estudar neste instante é que existe um estado em que nos tornamos estáveis; um estado interior em que lidamos com tudo sem que sejamos vulneráveis e suscetíveis a ponto de abandonar as linhas da sublime canção do amor, o Evangelho Crístico.
Então, amigos, de forma resumida, eu, você, nós, indivíduos comuns, mergulhados na azáfama da vida diária, ainda não possuímos uma harmonia conquistada. Até enxergamos essa harmonia. Sentimo-la algumas vezes, mas não é um estado constante. Alguém, dentro de nós, concorre, alguém disputa com essa harmonia. Quem é essa entidade? Tia Neiva chama essa entidade de alma.