Amigos e irmãos, saudações! Que Jesus possa-nos inspirar em mais esse diálogo fraterno. Salve Deus! Quantos se aproximam do Amanhecer, simplesmente, movidos pela esperança de solucionar suas questões de caráter tangível e imediato!? Quantos adentram o desenvolvimento mediúnico com o coração imbuído de intenções puramente personais, esperando que o desenvolvimento de suas faculdades mediúnicas seja a chave mágica para resolver problemas financeiros, desfazer conflitos familiares, abrir caminhos na vida sentimental, curar enfermidades do corpo ou destravar dificuldades profissionais?
É claro que o exercício mediúnico – quando comprometido com a lei de auxílio – significa resolução progressiva de nossas questões. Entretanto, o Evangelho crístico não pode ser tomado à guisa de um balcão de negócios. A decisão de adentrar à corporação, tornando-se um médium do Amanhecer, não é instrumento destinado à resolução simplista de questões pessoais, mas poderosa ferramenta com que galgaremos gradualmente os degraus de uma profunda compreensão sobre nós mesmos, se tivermos humildade para os rigores da disciplina. Não se pode tomar o apostolado de tantos luminares como uma agência de soluções para nossas questões. É atitude desrespeitosa e ledo engano de nossa parte supor que o legado crístico esteja à mercê de satisfazer nossas ilusões imediatistas da matéria.
Os apontamentos de Jesus a todos nós não deixam dúvidas no sentido de que o objetivo maior da Doutrina é promover o progresso moral da humanidade. Não há, em lugar algum dos textos fundamentais, a promessa, em primeira instância, de resolução de nossas questões práticas da existência terrena. Mesmo porque, os nossos mentores e guias espirituais sabem de nossas necessidades em todos os sentidos. Nada escapa-lhes à percepção.
O desenvolvimento mediúnico, em suas linhas genuínas, oferece algo infinitamente mais valioso que as soluções temporárias dos problemas materiais: a compreensão de nossos próprios caminhos. Quando nos abrimos verdadeiramente aos ensinamentos superiores; quando exercitamo-nos no despojar de interesses pessoais mesquinhos, a Doutrina nos revela o sentido profundo de nossas experiências. Aquela dificuldade financeira pode ser uma lição sobre desapego. O conflito familiar pode ser uma oportunidade de exercitar a paciência e o perdão. A enfermidade, difícil de ser debelada, pode ser um convite à reflexão sobre nossos caminhos, hábitos e prioridades. O sofrimento deixa de ser um problema a ser eliminado. Transmuta-se em dor para se transformar em uma escola de aperfeiçoamento pessoal.
Decerto, a grande mudança que o indivíduo pode vislumbrar no desenvolvimento mediúnico é o fato de que as dificuldades, longe de serem obras do acaso ou castigo divino, são obras de nosso próprio proceder, mas, ao mesmo tempo, são oportunidades de aprendizado por nós esperadas desde longínquas eras.
A Doutrina, sim, oferece o trabalho na lei do auxílio. Mas este auxílio não é o que nosso psiquismo calculista imagina. Não é a força espiritual trabalhando para nos enriquecer materialmente, ou para nos poupar das consequências de nossos atos, aplainando inconsequentemente, o terreno irregular de nossas dificuldades. O verdadeiro auxílio espiritual consiste no aprofundamento da compreensão sobre si mesmo. Quando nos colocamos na lei de auxílio, compartilhando o pouco que temos com nossos irmãos igualmente necessitados, trabalhamos por nós e pelos demais. E é neste labor que encontramos, como consequência natural e não como objetivo, a paz interior e a harmonia que tanto buscávamos.
Supor-se trabalhador da seara crística com o intuito de resolver as próprias questões é forma sutil, porém perigosa, de egoísmo que se supõe escondido sob as vestes do altruísmo. É querer transformar as coisas sagradas em moeda de troca; é tentar subornar as leis divinas com nossa dedicação interesseira. É egoísmo mascarado, afastando-nos paradoxalmente daquilo que buscamos. Não se pode pretender o lustro do caráter, não se pode buscar a honra, o amor, a sabedoria para escapar do inferno ou da danação eterna. O nome disso é medo; tampouco se pode buscar o amor, a humildade, a tolerância como garantia de um lugar nos planos iluminados. É comércio.
Não se pode pretender o lustro do caráter, não se pode buscar a honra, o amor, a sabedoria para escapar do inferno ou da danação eterna. O nome disso é medo; tampouco se pode buscar o amor, a humildade, a tolerância como garantia de um lugar nos planos iluminados. É comércio.
Escola do Caminho
Trabalhemos por amor ao trabalho. Sejamos honrados por amor à honra. Cultivemos a sabedoria por amor a ela. Sirvamos por amor ao servir. Esta máxima encerra toda a sabedoria do verdadeiro servidor do Cristo. Quando nossa motivação é pura, quando servimos pelo prazer de servir, sem esperar recompensas ou reconhecimentos, nossa alma se harmoniza com as leis superiores. Entreguemo-nos, assim, aos trabalhos em nome da satisfação íntima de sermos úteis com o pouco que possuímos. Este é o verdadeiro trabalho crístico, desinteressado, invisível aos olhos físicos. Fora disso, nada existe.
Qualquer disposição interior de mercadejar com as coisas de Deus revela o quanto ainda estamos presos às ilusões da personalidade inferior. Quando tentamos estabelecer contratos com o mundo espiritual – “vou desenvolver minha mediunidade para que meus problemas sejam resolvidos” – estamos profanando o sagrado e prolongando nossas próprias dores.
As leis divinas não funcionam à guisa de transações comerciais. O universo não é um grande supermercado onde trocamos trabalho espiritual por benefícios materiais ou de qualquer outra natureza. A justiça divina é perfeita, mas opera em dimensões que nosso cérebro limitado não compreende totalmente.
A verdadeira libertação não vem da resolução mágica de nossos problemas externos, mas da transformação de nossa maneira de vê-los e vivenciá-los. Quando compreendemos que viemos à Terra para aprender, que cada dificuldade é uma oportunidade de crescimento, que cada prova é uma chance de reflexão, nossa perspectiva se transforma completamente.

Na majestade silenciosa da natureza, encontramos uma das mais eloquentes lições sobre o crescimento espiritual: o carvalho frondoso, que ergue sua copa acima das demais plantas e pode vislumbrar horizontes que só sua altura permite, deve esta condição privilegiada às inúmeras dificuldades e dores que lhe fizeram face ao longo de sua existência.
Ao adentrares à corrente do Amanhecer, o que chamamos de “problemas” continuarão existindo. São parte fundamental de nosso aprendizado. Contudo, nossa relação com eles muda diametralmente. Descobrimos que a verdadeira riqueza está no que podemos aprender com cada episódio de nossa vida. A verdadeira saúde não está apenas no corpo aparentemente e/ou temporariamente são. A verdadeira felicidade não depende das circunstâncias externas, mas da harmonia interior. A mudança deste prisma de entendimento fará em nossa vida o que o senso religioso chama de milagre.
O convite à transformação
O desenvolvimento mediúnico autêntico é um convite à nossa transformação mais profunda. É um chamado para deixarmos de ser escravos de nossos desejos e nos tornarmos servidores conscientes na incomensurável comunidade universal. Não busquemos em Jesus a aparente solução fácil para nossos problemas convencionais de caráter. Não é esta a proposta Dele. Busquemos a sabedoria para compreender o sentido de nossas experiências. Não esperemos a mediunidade como analgésico vulgar que desconsidera a causa refrigerando a dor. Não é essa a função dela.
Não busquemos em Jesus a aparente solução fácil para nossos problemas convencionais de caráter. Não é esta a proposta Dele. Busquemos a sabedoria para compreender o sentido de nossas experiências. Não esperemos a mediunidade como analgésico vulgar que desconsidera a causa refrigerando a dor. Não é essa a função dela.
Escola do Caminho
Trabalhemos, sirvamos, amemos – não para receber, mas para contribuir. Não para resolver nossa vida, mas para descobrir o verdadeiro sentido dela. E então, como uma consequência natural de nossa transformação íntima, descobriremos que os verdadeiros problemas se dissolvem não porque foram resolvidos externamente ou comprados com serviços mediúnicos, mas porque crescemos para além deles.
Este é o convite de Jesus.