1. Primeiras palavras
Amigos e irmãos, saudações! Salve Deus! Jesus nos abençoe a todos!
Recentemente, em uma festa cigana, um presidente de templo do estado do Ceará, irmão muitíssimo querido, deixando de lado o clima de descontração que caracterizava o festejo, achegou-se a mim e, em tom de confidente desalento, desabafou o desânimo que lhe invadia a alma e que arrefecia mesmo os seus ideais missionários mais rijos. Dizia ele:
– Estou cansado desta coisa de entram dois, saem três; entram mais três, sai um. Entram em seguida dois para que saiam mais outros tantos. Parece que minhas palavras são ao vento…
Ele referia-se ao fato de que o corpo mediúnico não se firmava. Não havia um crescimento robusto, real. Apesar das inúmeras matrículas realizadas pelo Devas, o número de médiuns presentes diuturnamente muitas vezes não permitia a realização de uma Mesa Evangélica. Assim seguia nosso irmão em suas confidências…
O diálogo seguiu. Entre considerações de parte a parte, varamos outros assuntos. Ao som da música festiva, os minutos transcorreram céleres. A festa já caminhava para seu desfecho, e, estando nosso amigo mais bem-disposto, disse que deveria divulgar a Doutrina em sua cidade como solução da questão numérica que o afligia nas fibras mais íntimas.
4. Políticas e diretrizes de crescimento
Não descabe considerarmos que após o desencarne de Koatay 108, um fenômeno acometeu o Vale do Amanhecer de forma danosa. O aumento vertiginoso de médiuns chamou atenção e indicava aos que estavam mais atentos às linhas evangélicas e ao que tia Neiva ensinava, que algo não caminhava bem. As indicações se confirmaram com o triste desenrolar sucessivo dos acontecimentos destas poucas, mas intensas décadas.
Mais acentuadamente a partir da década de 1990, no cotidiano de grande parte dos templos, iniciou-se uma verdadeira corrida por médiuns. Corrida esta, a que se lançaram ávidos, muitos presidentes de templos. Nesse sentido, não foram poucos os visitantes que, após pouquíssimas consultas com as entidades, optavam pelo desenvolvimento mediúnico, guiados, simplesmente, por influência de amizades, por convites imprudentes de médiuns da própria corporação ou mesmo por comunicações equivocadas nos tronos. Estabeleceu-se, desde então, uma verdadeira produção em série de médiuns, como se isso fosse uma solução e não um problema.
Este crescimento, apesar de desgovernado e espiritualmente desastroso, é vistoso aos olhos físicos e por isso agrada à maioria dos dirigentes, sobretudo aqueles empenhados em parecerem produtivos aos olhos do Templo Mãe. Não são poucos os amigos presidentes que enxergam no número de médiuns uma afirmação das verdades espirituais. Há, entretanto, nisso tudo, uma ilusão perigosa que ronda aqueles que se colocam na posição de condutores espirituais: a crença de que o número de médiuns representa uma medida de elevação espiritual ou confirmação divina de sua missão. Esta é uma armadilha sutil, mas devastadora, que transforma a sagrada função de orientar em um exercício de vaidade pessoal.
O presidente de templo, o instrutor ou quem quer que seja, que busca validação espiritual no aplauso das multidões ou na quantidade de pessoas que o segue não estaria revelando, sem perceber, a profundidade de suas próprias inseguranças quando se apoia em elemento tão superficial? Não seriam nossos vazios interiores a gritar por preenchimento e/ou afirmação social? Será, realmente, que o reconhecimento exterior verificado pelo número de médiuns é chancela de espiritualização?
A verdadeira liderança espiritual não se mede por números, mas pela essência crística vivenciada pelos dirigentes e que irradia o corpo mediúnico. Um único coração verdadeiramente tocado pela luz vale mais que mil indivíduos impressionadas por palavras eloquentes ou ingressados na corrente por superficialidades diversas. O autêntico condutor espiritual compreende que sua função não é atrair multidões, mas servir fielmente àqueles que os guias colocam em seu caminho.
Os mentores espirituais, em sua sabedoria, conduzem ao templo precisamente aqueles que necessitam estar ali. Não há necessidade de campanhas promocionais, estratégias de marketing ou artifícios para aumentar o número de frequentadores. A lei de atração opera de forma perfeita no plano espiritual: cada alma encontra o ambiente e os ensinamentos de que precisa no momento exato em que pode aproveitá-los; se assim não acontece; se o indivíduo se atrasa, é por escolha individual, de modo que não há erro jamais.
Quando um líder espiritual se preocupa obsessivamente com o crescimento numérico de seu grupo, está aplicando à espiritualidade a mesma lógica que governa os empreendimentos comerciais. Esta atitude é profundamente capitalista em sua essência: busca o crescimento quantitativo, o aumento da “clientela”. Transforma o templo em uma empresa e os frequentadores em consumidores de um produto religioso cuja promessa maior é a evolução espiritual.
Quando um líder espiritual se preocupa obsessivamente com o crescimento numérico de seu grupo, está aplicando à espiritualidade a mesma lógica que governa os empreendimentos comerciais. Esta atitude é profundamente capitalista em sua essência: busca o crescimento quantitativo, o aumento da “clientela”. Transforma o templo em uma empresa e os frequentadores em consumidores de um produto religioso cuja promessa maior é a evolução espiritual.
Escola do Caminho
O verdadeiro trabalho espiritual não conhece pressa nem ambição numerária. Ele se desenvolve organicamente, como uma árvore que cresce em tempo natural, estendendo seus galhos conforme sua estrutura permite suportar, vencendo as fases de amadurecimento sem o atropelo que o imediatismo personal tenta e tantas vezes consegue impor. Forçar esse crescimento é como exigir que uma criança se torne adulta antes da hora: o resultado será sempre um desenvolvimento desequilibrado e frágil. Noutras palavras, o corpo mediúnico não se afirma; não há assistência espiritual e o progresso é mirrado.
O líder espiritual maduro compreende que sua responsabilidade é aprofundar-se em si mesmo, purificar seus próprios sentimentos e tornar-se um canal cada vez mais limpo para a manifestação das verdades eternas. Sua preocupação não é com quantos o ouvem, mas com a qualidade daquilo que transmite. Tentar distorcer este processo natural de crescimento do templo, aconselhando-se com a vaidade, cedendo e alimentando políticas e diretrizes inadequadas por meio discursos vazios, meias-verdades e promessas de soluções pragmáticas propagandeadas como elixir miraculoso para a vida dos que procuram o templo, é atrair sofrimentos insondáveis que recairão sobre si, inexoravelmente.
Na verdade, a minoria dos que procuram os templos do Amanhecer decidir-se-á pelo desenvolvimento mediúnico. Era assim com tia Neiva. É assim hoje. Significativa parcela dos visitantes vem trazida pelos mentores para receber um lenitivo necessário a uma determinada fase da vida; na maioria dos casos de atendimento, ocorre uma emanação de que o consulente necessita para resolução de entraves cármicos ou mesmo uma cura, tantas vezes física, outras vezes não. Só os mentores podem divisar os infindos casos que se desenrolam em um simples dia de atendimento. Deixemos, entretanto, o vezo de enxergar em cada visitante um médium do Amanhecer a funcionar como uma possível afirmação quantitativa de nossa missão.
A humildade nos afirma que somos todos aprendizes na escola da vida. O líder espiritual não se detém em estatísticas vãs. Seu labor não se destina a atrair atenção, mas objetiva servir no sentido de lenir o caminho alheio tanto quanto lhe seja possível.
Jesus nos abençoe a todos. Salve Deus.