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O homem de lama

Caminhávamos por entre a escuridão que era mais densa do que o normal e nessa luta vencíamos caminhos estreitos e perigosos. Pai Ananias sempre ia na frente me mostrando o melhor caminho. Enfim chegamos a um lugar horrível e assustador. Inquieto, perguntei ao meu mentor para onde tínhamos ido. Ele não respondeu e fez um gesto para que eu tivesse calma e esperasse. Continuamos a caminhar por mais um tempo e de repente pai Ananias parou me comunicando que era aquele o lugar. Em seguida pediu para que eu me sintonizasse com os planos iluminados pedindo a Jesus a proteção necessária para aquele momento.

Fechei meus olhos por alguns momentos e mergulhamos em alguma coisa que não sei explicar. Tive a sensação de estar voando e segundos depois nos deparamos com um lugar feio e muito escuro. Senti medo e pai Ananias mais do que depressa disse-me que não era necessário e que aquilo poderia fazer com que eu perdesse minha sintonia.

Fiz menção de recuar e pai Ananias, de um modo mais severo, disse-me que ficasse e buscasse uma sintonia firmada. Só isso me asseguraria das baixas impregnações daquele mundo em que estávamos. Por alguns momentos ainda o medo continuou, porém, depois da advertência, passei a dominá-lo melhor.

Apontando com o dedo, pai Ananias me disse que mais a frente era o lugar, e que eu observasse atentamente. Estávamos à beira de um pântano. Aquele lugar me causava arrepios e seu aspecto lamacento me fazia sentir um certo enjoo. Fixei meus olhos numa coisa enorme que estava ali a poucos metros de nós e, por mais que me esforçasse, não consegui definir bem o que era. Eu ainda estava com um pouco de medo e desarmonia e isso me atrapalhava naquela visão. Pai Ananias disse-me novamente que firmasse meu pensamento.

Com muito esforço consegui clarear meus pensamentos e aquela imagem se fez nítida aos meus olhos. Era horrível. Uma cabeça gigante se movia lentamente e mal podíamos definir o que era boca ou olhos do resto da cabeça. Tudo ali era coberto de lama e me parecia que era essa a sua constituição. A cena era horrível e assustadora.

Fiquei muito impressionado com o homem de lama e acho que não teria quadro mais triste do que o daquele espírito. Perguntei a pai Ananias quem era ele. Disse-me que era um dos comandantes do mundo etérico e que, para meu próprio bem, não me daria o nome dele. E continuou:

– Sim, meu filho. Esta é a sua forma verdadeira. Ele possui tanto ódio que com o tempo foi se transformando nisso que hoje estamos vendo. Porém, assume a roupagem que quiser, refletindo a imagem como um homem comum que trabalha e comanda sua legião de espíritos.

À medida que pai Ananias falava, passava pela minha mente quadros de suas atividades. Ele era um homem igual a nós e passava ordens que eu não escutava. Perguntei como ele poderia estar ali e em outro lugar ao mesmo tempo.

– Filho, ele é muito perigoso e nós estamos no seu núcleo, vendo seu aspecto humano. Porém, ele se desenvolveu no dia a dia, no que podemos chamar de formas ilusórias ou temporárias. Tão logo as projeta, volta ao que é. Trata-se de um grande manipulador de magia negra e para ele é fácil assumir outras roupagens.

– Seria como uma ilusão de ótica? Ele parece, mas não é?

– Exatamente, meu filho. Porém, suas atribuições são enormes e muitas são suas responsabilidades com outros espíritos que vivem escravizados em sua força. Ele é, na verdade, um dos reis do plano etérico e todos o temem. Sob sua magia ele coordena um verdadeiro exército invisível, espíritos que cumprem seus desígnios, numa grande organização. Esse é o seu lugar, seu núcleo, sua origem.

Tive pena e medo dele. Perguntei a pai Ananias se ele não poderia nos fazer mal e, ingenuamente, o que poderíamos fazer por ele.

Filho, o que poderíamos fazer é pedir a Jesus por ele, por sua recuperação, por sua consciência crística, mas somente o tempo o livrará de tal peso. E quanto maiores são suas responsabilidades e seus comprometimentos, mais ele mergulha na sua imperfeição. Somente os milênios filho, poderão trazer-lhe a libertação.

Interrompi novamente dizendo que ele deveria sofrer muito naquele estado.

Como já lhe disse meu filho, a oração ameniza as dores daqueles que estão perdidos, sofrendo com o coração cheio de ódio. Somente tempo lhe trará a luz. Agora quanto a nos ver, se você observar melhor, vai perceber que nós estamos aqui e não estamos. É somente uma projeção nossa. Na verdade, não estamos no seu plano vibratório, é somente a nossa imagem. Nós estamos num plano bem acima deste e nos projetamos para cá. A sensação que você sentiu de voar e mergulhar em algo desconhecido era, na verdade, quando projetávamos nossa mente neste plano, pois não suportaríamos suas irradiações. Veja filho, somente com nossa projeção você já sentiu os efeitos, o medo e as energias pesadas pelas vibrações dos espíritos que vivem aqui. Então devido a isso ele não nos enxerga e só nós estamos o vendo.

Voltei meus olhos para aquela figura tão deformada e tentei sentir em vão sentir sua dor. Sabia que era inútil. Ninguém, além de Deus, poderia avaliar o que ali se passava. Meu coração, comovido diante do que via, fazia rasos meus olhos pelas lágrimas teimosas que insistiam em querer sair. Ninguém nunca poderia ficar insensível àquela cena, embora nada pudéssemos fazer para ajudá-lo. Ao mesmo tempo, algo me dizia que aquele espírito era meu irmão. Esse sentimento e essa ideia apagou o resto de medo que sentia dele e se pudesse não mediria esforços por aliviar seus sofrimentos. Pedi ao Pai Seta Branca que o protegesse e a Jesus que o iluminasse.

Saí dali muito triste, sentindo-me impotente diante de tantos sofrimentos que existiam naquele lugar. Pai Ananias, vendo meu estado, começou a me dizer:

Filho, salve Deus. Não poderás ajudar ninguém neste estado. Tenha confiança e fé em Deus. Ele, mais do que ninguém, sabe do que se passa em cada ser deste universo. Envolva-se de alegria e confiança no nosso trabalho; tenha perseverança no bem e ajude os outros naquilo que puderes, assim estarás ajudando a aliviar os sofrimentos de uma forma geral em todo universo… Eu escutava aquelas palavras e aquilo me ajudava a raciocinar mais livremente, sem o impacto daquelas cenas. Com todos os sentidos eu captava as palavras daquele anjo de Deus, que ficaram gravadas na minha mente. No dia seguinte, eu tentava as colocar em prática.

Assim os dias foram passando. A cada noite um novo ensinamento. Eu, acompanhado de pai Ananias, transitava pelos mundos invisíveis da dor e do sofrimento, imperceptíveis aos nossos olhos físicos. Eu vivia do lado de lá como se fosse aqui no plano material. Eram tão reais aqueles contatos, aquelas experiências, que não havia dúvidas quanto aos acontecimentos que me esperavam todas as noites.

Por vezes, eu ainda me colocava a pensar que estava sendo preparado para algo que não sabia. A cada dia, a cada contato, a cada experiência eu ia formando uma nova visão da vida. Entretanto, as minhas perguntas do início não eram respondidas. Qual era realmente o motivo de tudo aquilo? Por que pai Ananias me acompanhava tão de perto? Sem perceber, meu destino era desenhado. As dúvidas não mais me tiravam de sintonia e eu já conhecia muito bem pai Ananias.

Os dias se passavam e uma angústia muito grande tomava conta de meu ser. Uma certeza de que grandes mudanças aconteceriam morava na minha alma e tudo aquilo era questão de pouco tempo. Assim ia me preparando, um dia após o outro, sem saber o que o futuro nos preparava…

Publicado em:Experiências de um leigo

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