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Pequenas reflexões

Tudo neste plano físico é muito inconstante

Pai João de Enock
- Meu filho, nesta bendita hora, em que a vida para e os homens adormecidos em seus leitos, repousam seus corpos nas turbulências de um pensamento controvertido, vamos ao trabalho, pois, quem não trabalha dá trabalho. O seu atraso é imenso, tuas responsabilidades maiores do que o teu juízo e tuas juras transcendentais te impõem metas de um destino cármico que o colocará diante da vida no único ofício: o de servir. Deves servir. Servir será sempre melhor do que ser servido. 
E partimos dali rumo ao destino daqueles que estavam entregues a nós. No caminho solucei minhas reclamações:
- Isso é trabalhar demais, é trabalho escravo. Ninguém merece. Arrematei.
- Cala-te meu filho, pois com certeza tudo seria mais fácil agora sem você. Está a reclamar do quê? Volte... Volte e eu então, deixarei aquele homem ali, ser o seu companheiro de viagem, afinal, vocês são afins em seus padrões. Está vendo? 
- Sou seu escravo, o que desejas meu amo. Rimos...
Passagem com Pai João.

Tudo nesse plano físico é muito inconstante; tudo está condenado a desaparecer, se transformar, evolucionar. Tudo mesmo, e é muito rápido, por isso temos que tentar acompanhar o ritmo dos acontecimentos, compreendê-los e retirar os nossos ensinamentos, que são as pérolas que levaremos para o futuro de outras vidas, porque tudo se transforma rapidamente sob a ação infalível do tempo.

Somos pequenos aprendizes nessa grande universidade que é a vida que escolhemos. Ela nos fornece tudo o que precisamos para nos prepararmos para as grandes provas, os grandes testes. Além do mais, nunca sabemos com exatidão o dia em que elas chegarão. Muitas vezes supomos estarmos seguros, firmes em nossas vidas, quando nos deparamos com aquelas que foram as nossas vítimas do passado e caímos por não saber amar, compreender aquela sublime mensagem, a rica oportunidade que Deus nos concedeu.

Quantos passam pela vida sem compreendê-la? Quantos acreditam estarem absolutamente certos e quando chegam do outro lado, desencarnam, se deparam com um mundo dinâmico onde os valores são pesados pelo que levamos em nossas bagagens? E sofremos muito sem poder acompanhar aqueles que vivem felizes e realizados em seus reinos. Sim mestres, a balança pesará os nossos merecimentos; aquilo que fizemos de bom ao próximo e a nós mesmos, porque tão logo cheguemos do outro lado, teremos que prestar contas do que fizemos ou deixamos de fazer.

Em 1979 chegamos definitivamente ao Vale do Amanhecer. Tudo era muito simples e muito original, muito bonito mesmo. Chegamos e fomos logo fazendo ambiente, sentindo em nossas almas as mais lindas recordações de eras tão remotas e felizes, até que nos apaixonamos. Dali em diante tudo se tornou um grande caso de amor, como dizia Tia Neiva. Daquele dia em diante, também, acabou o nosso sossego.  Tudo era lindo e real, mas tivemos que pagar o preço para poder receber aquela cultura dos nossos antepassados, a magia dos encantados. Noite após noite de trabalhos, fomo-nos aculturando e nos colocando a caminho, vencendo e eliminando nossas dúvidas, inseguranças. Então caminhamos para uma decisão: sermos visitantes ou médiuns.

Vivíamos sempre pesando os nossos valores, sempre entre a cruz e a espada, entre a verdade do espírito eterno, a individualidade e a personalidade transitória com os valores mundanos. Sofríamos ao ter que abandonar os nossos sonhos, as nossas doces ilusões de homens físicos e encarnados; sofremos com a incompreensão, com preconceitos, rejeições, tolices ditas, expressadas em gestos, fatos que nos fizeram sofrer…

Mas tínhamos que optar entre os valores do mundo e os valores espirituais; logo sentimos que os dois não se casariam. Tínhamos que abandonar as nossas iniciações físicas, os nossos falsos conceitos para podermos receber ideias renovadas, porque em nossa mente não cabia mais nada; era preciso esvaziar para recomeçar a encher… E isso implicaria em romper com quase tudo que amávamos.  Vivíamos Jesus quando dizia: “aquele que quer me seguir deve abandonar pai, mãe e negar a si mesmo. Negando a si mesmo, ganhará a vida eterna”.

Vivíamos entre a ânsia das transformações superiores e os preconceitos humanos. Inconscientes, sabíamos que estávamos pagando um preço, entretanto, estávamos sendo testados e não podia haver reprovação; não podíamos sequer vacilar, porque era uma oportunidade raríssima. E entre todos os interesses, optamos pelo que acreditávamos. Naquele oceano de incertezas, começamos a navegar decididos e crentes que teríamos sempre um guia, um amigo, um pai. Daí em diante, tínhamos como mentor espiritual, o Cacique Seta Branca, o nosso pai maior, o Simiromba de Deus.

Aumentaram as tensões em nossas vidas; éramos pressionados de todos os lados. Cercados de incompreensões. Os limites nessa época foram vencidos ao ponto de nosso pai, numa atitude extrema, nos colocar para fora de casa: ou saíamos do Vale do Amanhecer ou da presença dele.  Não vacilamos.  Foi então que pegamos nossas coisas e fomos embora.  Estava na casa de um amigo, porque minha decisão era clara e firme. Fiquei uns dias, até que ele reconsiderou a sua decisão. Eu retornei vitorioso.

Contudo aquilo não era o fim; as discussões continuariam nos trazendo ainda muitos aborrecimentos e desarmonias. Eles não aceitariam de forma alguma nosso ingresso naquela ‘macumba’, segundo dizia nossos familiares. O preconceito estava presente na nossa casa e nos fez sofrer… Sentíamo-nos como alunos que foram reprovados em outras épocas e estávamos de volta à escola. Pressentíamos que aquela oportunidade era única e que seria muito difícil. Parecíamos prisioneiros a pretender liberdade antecipada, sem merecimento. 

Diante de tudo isso, seguíamos as firmes determinações de nossas faixas cármicas. Mas, sobretudo, tínhamos uma certeza estranha que nos dava forças além das nossas. Não sabíamos de onde vinha toda aquela firmeza e determinação que se projetava na aparência de motivos. A vida é nossa, ninguém possui o direito de nos privar. Pensávamos assim, mas essa ideia estava longe da realidade do que estava acontecendo. 

Era um movimento além da nossa compreensão. Não podíamos dar chances para aqueles que, com certeza, se oporiam ao caminho. Assim enfrentávamos tudo e todos. Vencer era mais do que necessário; era ‘sobrevivencial’ daquele momento em diante. Tia Neiva sempre nos falava: “filho, tudo tem o seu preço”. Mas na verdade estávamos longe de compreender o que ela dizia. Pensávamos como podia ser aquilo se depois que entramos no Vale tudo ficou pior. Então vinha a grande dúvida: será que tudo isso está certo? Será que realmente este é o caminho a tomar? Acreditamos que sim e em pouco tempo éramos os fanáticos do Vale do Amanhecer…

E tudo foi caminhando em meio a tempestades, brigas, desarmonias sempre crescentes. Exigiam-nos deixar a doutrina, que aquilo não era bom e coisas desse tipo. Mas permanecíamos firmes e pagamos nosso preço por todo aquele acervo que estávamos recebendo dos planos espirituais. Nós hoje sabemos que também é assim que acontece com vocês, e ainda hoje fico me perguntando: por que tem que ser assim?  Num daqueles dias que estamos com o chapéu na mão a pedir, fui ao meu querido Pai Joaquim de Angola e perguntei porque tantas incompreensões, principalmente de quem está mais perto, de quem mais amamos.

Ele olhou e me disse:

– Meu filho, salve Deus. Vosmicê está na seara de Nosso Senhor Jesus Cristo, e essa é a Sua Doutrina de amor, de compreensão; é o maior tesouro que o homem pode conquistar na terra. Está ficando um homem rico filho, e pessoas pobres de compreensão não gostam de pessoas ricas de entendimento. 

– Jesus subiu o Calvário, pagou seu preço pela crucificação. O seu é pequeno e leve não acha?

Eu insisti:

– Por que ninguém gosta daqui?

-Pelo mesmo motivo que crucificaram Jesus. Mas não sei se sua afirmação é verdadeira. Olhe para a sua frente.

Levantei a cabeça e vi uma pequena multidão de pessoas sentadas, esperando uma oportunidade igual a minha. Então ele continuou.

-Meu filho, há duas pessoas em uma só. Uma na alegria e outra na dor, pois na alegria pensamos de um jeito e na dor pensamos de outro modo totalmente diferente. Mas não se incomode; isso não é muito importante; compreenderás amanhã que tudo é bom, e que as pessoas são assim mesmo, depois mudam.

É verdade mestres, o que Pai Joaquim de Angola me falou em 1979 somente hoje se torna acessível à minha compreensão. Tudo mudou, e o que era dor e desarmonia hoje está perfeitamente coerente e ajustado com o que precisamos aprender. Tudo faz parte de um aprendizado e desenvolvimento pelo qual temos que passar, ou não temos como ir mais longe.

Muitas coisas lindas aconteceram naquela época, e muitas coisas lindas acontecem hoje. Agora precisamos aprender a colher as rosas do nosso caminho, e nessa colheita é natural que de vez em quando um espinho nos fure as mãos. Tudo tem o seu preço e temos que saber exatamente o que queremos, para que, decididos possamos ir em frente e lutar pela nossa evolução.

Tivemos que vencer a todos, vencer pela certeza do que queríamos, do que acreditávamos, mesmo deixando muitos amigos, familiares e demais pessoas queridas; partimos ao encontro das nossas realizações e hoje, recebemos os mesmos amigos e familiares de ontem.  Eles veem e virão sempre ao nosso encontro; abraçam-nos; sorrimos juntos, em seguida partem. Será que compreenderam a sublime mensagem? Penso como Pai Joaquim: suas palavras sábias: “não é importante agora, filho, e sim as emanações que levarão e guardarão em suas mentes e corações.

Assim vamos caminhando, sempre com um adeus, sempre em despedida. Muitos ainda virão ao nosso encontro, como muitos já foram em busca dos seus destinos. São amigos que se reencontram, inimigos que se reajustam e se ajustam, amores em conflitos, desamores em incompreensão num bailar constante: encarnados e desencarnados, levando e deixando saudades, na sublime mensagem de que não há sofrimento, e sim uma canção que nos toca o coração na forma que pudermos compreender e amar. Salve Deus.


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