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Por que motivo deixamos o templo do Crato

O doutrinário não se mistura com o anti-doutrinário. Não há meio-termo. “Entre o bem e o mal, o ocultismo não admite transigência. Custe o que custar, é preciso fazer o bem e evitar o mal”.

1. Primeiras palavras

Amigos e amigas, saudações! Que a paz do Cristo-Jesus esteja entre nós. Cada um fala do que viveu. Cada um de nós só pode falar daquilo que viveu. “O homem só dá testemunho daquilo que conhece”, ensina-nos o Pai Seta Branca. O resto não passa de dogmatismo, teoria tola. Marcado este ponto, nesse momento, precisamos falar sobre os motivos pelos quais deixamos o templo do Crato. Voltamos a este assunto tantos anos depois porque entendemos necessário este esclarecimento àqueles amigos e irmãos que sofreram com esta separação. Saibam todos, porém, que nada desejamos mudar. Nada reivindicamos. Sobretudo, porque não guardamos nenhuma espécie de apego nesse sentido. Não buscamos posições de destaque; não buscamos vantagens particulares; não nos interessa nenhuma forma de conchavo mercantilista e politiqueiro; sobretudo, não desejamos nada que diga respeito a padrões puramente anti-doutrinários.

Um ponto fundamental: a separação não aconteceu, absolutamente, por discordâncias doutrinárias, como muitos concluíram na época. Nada disso. Havia, sim, um lado doutrinário e um lado anti-doutrinário. Havia um lado que lutava, ainda que com todas as precariedades, pela missão confiada pelo Pai Seta Branca. Mas havia um lado que lutava por seus próprios e mesquinhos interesses. E os médiuns dividiam-se, por sintonia, entre esses dois grupos: o doutrinário e o anti-doutrinário. Nesse contexto, a maioria dos comandantes empenhava-se nas lides puramente pessoais, dilatando suas ambições, aumentando seus apetites por posições vazias, numa corrida sem qualquer propósito.

Isso precisa estar bem pontuado porque o doutrinário não se mistura com o anti-doutrinário. Isso não é possível. Na vida, amigos e irmãos, não há meio-termo. “Entre o bem e o mal, o ocultismo não admite transigência. Custe o que custar, é preciso fazer o bem e evitar o mal”. Koatay 108 ensina-nos assim. Pai João de Enock, em sua linguagem iniciática usa uma expressão já muito conhecida por aqueles pooucos que lhe são próximos: “raposas sentadas em seus próprios rabos”. Esta simbologia refere-se aos homens de mesquinhos interesses.

2. As ocorrências físicas e etéricas

Corria a segunda metade do ano de 1995 e, desde algum tempo, as coisas que aconteciam no templo do Crato passavam muito do aceitável. Nessa época, o Chiquinho morava na avenida João Alves Rocha, que separa o bairro Seminário do bairro Novo Crato, bem perto do depósito de materiais de construção Pé Seco. O Batista morava ali pertinho também, a menos de 500 metros, na atual rua Padre Rodolfo. Todos bem próximos ao templo…

Estamos numa madrugada fria e enquanto o plano físico se aquieta e a vida física dorme, o plano etérico se agita. Pai João chega e tira o Chiquinho do corpo. Iriam trabalhar. “Vamos a uma reunião para a qual não fomos convidados”, brinca o preto velho. Em breves instantes, ambos adentram um ambiente escuro no qual alguns homens se reúnem em torno de uma mesa tosca. Sem que sejam notados, os dois – Chiquinho e Pai João – apenas escutam o desenrolar do diálogo.

Um grupo de médiuns doutrinadores, comandantes, começa a se organizar em uma terrível maquinação. O intuito – acredite – era desencarnar o mestre Batista. Tudo estava bem-arranjado: o encarregado de efetuar o assassinato já estava de posse da arma de fogo. Em um dia de trabalho oficial, quarta-feira ou sábado, o Batista seria provocado dentro do templo e, certamente, reagiria. O plano tenebroso consistia em iniciar uma discussão banal, que evoluiria para troca de ofensas; na certa aconteceriam empurrões, e então a coisa se daria. Depois do ocorrido, todos os demais envolvidos na nefanda combinação testemunhariam no sentido de que o Batista partira para agressão e o homem que efeturaria os disparos agira em legítima defesa.

Jaguares reunidos tramam plano macabro.

Na empolgação do plano, um falava daqui, outro falava dali. Os detalhes eram considerados; todas as possibilidades eram levadas em conta e as ideias iam se juntando no roteiro criminoso. Um homem, entretanto, nada falava. Sentado no círculo junto aos demais, ele observava, somente. O seu silêncio despertou a atenção do Chiquinho e por um momento seus olhares se cruzaram. Aquele olhar era muito familiar. Era um homem negro, de compleição física franzina e olhos argutos.

Dado mais algum tempo em que o plano urdido enriquecia-se de detalhes, a reunião se desfez. Na volta, o Chiquinho ouvia as orientações de Pai João. “Entreguem o templo, meu filho, e desarmem todos. Irmão não luta contra irmão. Se é o templo que eles querem, é o templo que eles terão. O que é vosso está por vir “. Enquanto Pai João falava, o Chiquinho ainda não voltara a si da estupefação provocada pelo que vira. De si para si, perguntava-se como podia ser aquilo tudo, afinal eram jaguares, mestres consagrados. Toda aquela urdidura não lhe cabia nos pensamentos. Pai João, ouvindo seu conflito, ponderou: “não são mestres consagrados, meu filho. Não basta vestir o corpo. Agora equilibre sua mente, você precisa trabalhar“. De volta ao corpo, Chiquinho teve dificuldade em conciliar o sono. E relembrando os momentos da reunião, reconheceu o olhar daquele negro franzino: Jargan!

E relembrando os momentos da reunião, reconheceu o olhar daquele negro franzino: Jargan!

No dia seguinte o caso – por óbvio – foi assunto de reunião. Estavam presentes o Batista, a Sonia, o Chiquinho e a Adriana. O Batista não queria ceder e achava que o melhor a se fazer era resistir. A Sonia e a Adriana igualmente propuseram que o templo fosse entregue. Houve forte desentendimento. O Batista era voto vencido e se exaltou bastante. Empurrou o Chiquinho, as mulheres amedrontaram-se e o clima ficou muito tenso. Claro, havia muitas forças etéricas atuando. A reunião foi desfeita e todos saíram com os corações pesados. Além disso, saíram sem um alinhamento, sem nada combinado e a situação pedia agilidade. É fato que a essa altura, havia estremecimentos entre Batista e Chiquinho. Se houve alguma desconfiança no sentido de que Pai João não havia dito aquilo ou que aquela conspiração não existia, essa desconfiança ficou no silêncio de cada um.

Nesse clima de tensão, mais alguns dias correram. Houve ainda conversas isoladas, entre os casais: Chiquinho e Adriana de um lado, Batista e Sonia do outro. Chegou o sábado e a noite trouxe o Trabalho Oficial. Ao templo, começam a chegar os médiuns e os visitantes. Os trabalhos se desenrolam normalmente. Já um pouco mais tarde, um pequeno grupo de dois ou três médiuns surpreendem um doutrinador que, dentro do templo, portava um revólver calibre 38. Nem o Batista, o Chiquinho e muito menos as esposas, Sonia e Adriana estavam no templo. O episódio espalhou-se entre alguns, mas foi, sabiamente, abafado da maioria do corpo mediúnico. É claro, o Batista e o Chiquinho souberam do ocorrido. Estava cabalmente confirmada a comunicação de Pai João.

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Por que motivo deixamos o templo do Crato

A MISSÃO DO NORDESTE

A razão fundamental pela qual deixamos o Crato, foi a existência de um plano funesto, que incluía atentado contra a vida de um dos membros fundadores. A partir desse momento, não mais fazia sentido estar ali.

“Entreguem o templo, meu filho, e desarmem todos. Irmão não luta contra irmão. Se é o templo que eles querem, é o templo que eles terão. O que é vosso está por vir “.
Pai João de Enock.

Não tinha mais sentido continuar ali, no Crato. Em uma antiga folha, já amarelada pelo tempo, que hoje nem mais existe, havia o seguinte desabafo: “não havíamos saído de Brasília para viver situações de tal natureza. Mas deixar aquele campo de lutas, sobretudo, tantos amigos e afetos, foi muito doloroso. Foi, para todos nós, uma triste surpresa. O jeito era seguir adiante“.

Os dias seguintes foram tristes e pesados. O Batista já estava trabalhando no Ministério do Trabalho e passava o dia no Juazeiro do Norte. A casa dele e de Sonia situava-se em frente à casa de Nainha, onde regularmente funcionava um terreiro muito frequentado por médiuns do Vale. Certa tarde, a Sonia sai à calçada e avista Nainha, que em pé na calçada do outro lado, acena. Sonia sai de sua calçada e vai cumprimentá-la. Ali entabulam uma rápida conversa. Nainha não mede palavras e fala nos seguintes termos:

– Mulher, tem tanta gente desse templo do Vale que não gosta de vocês aqui, que você nem imagina. Vivem fazendo trabalho pra acabar com a vida de vocês. Não é justo. Olha, se você quiser, eu devolvo todos os trabalhos, porque eu vejo que vocês são gente boa. Não é justo isso que fazem…

A Sonia, ouvindo o relato, disse que não precisava devolver, absolutamente.

Alguns dias seguiram-se. Houve uma reunião com o corpo mediúnico. O templo foi devidamente entregue. O clima geral entre aqueles que foram obrigados a deixar o Crato era de tristeza. Mas aqueles que deram o golpe, apesar do regozijo, naturalmente, não estavam nem podiam ficar bem. Entre os médiuns, houve burburinho. Os de boa fé entristeceram-se. Outros comemoravam em silêncio a separação ou regozijavam-se em rodinhas de conversa bem características nas quais a malediência era o tom costumeiro.

Nessa época, havia um pessoal visitando a casa do mestre Batista. Alguns deles eram videntes, inclusive. Haviam viajado bastante; conheciam muitos lugares. Certo dia, um deles começou a narrar que não estava entendendo uma situação. Ele dizia que havia um índio no templo. “Esses que vocês chamam de Pai Seta Branca”. Ele, o índio, estava ali com uma grande corte de espíritos recolhendo todas as energias espirituais que até então estavam dispostas naquele templo. Em sua narrativa, ele ainda deu muito mais detalhes, concluindo, por fim, que os espíritos de luz estavam deixando aquele lugar. Triste…

Pouco tempo depois, atendendo a questões familiares, a Sonia e o Chiquinho viajaram a Brasília. Logicamente foram ao Vale. Lá, encontraram o Guilherme, Adjunto Amayã. Ao se verem, ele se emocionou e disse à Sonia, em tom quase confidencial:

– Minha rosa, eu estava muito preocupado esses dias, sabe. Eu estava com medo de que acontecesse alguma morte lá no Ceará…

Mais uma vez, pelas palavras do Amayã, que desconhecia totalmente o cenário que se desenrolava no Crato, comprovava-se de forma cabal a comunicação de Pai João. Pouco tempo depois, Chiquinho e Sonia voltaram de Brasília. Tudo estava mais calmo. Houve algumas reuniões entre os quatro: Sonia, Batista, Chiquinho e Adriana. Depois de tantas coisas, não havia mais possibilidades de permanecer morando no Crato. Atendendo às determinações de Pai João, mudaram-se para o Juazeiro do Norte. Era necessário perseverar… Claro que sabemos quem eram os médiuns envolvidos. Também é óbvio que isso nunca será divulgado. Hoje eles permanecem na Doutrina e esperamos que estejam felizes e realizados. Nas idas a Brasília, por ocasião das consagrações, esses médiuns abraçavam o Chiquinho, o Batista efusivamente…

3. Sepulcros caiados

Não basta vestir o corpo. Aliás, estando nu o coração de nobres sentimentos, é melhor que também o corpo vista de andrajos. O celeiro doutrinário é o coração. A essência é invisível aos olhos físicos. Jesus, generosamente nos ensina sobre isso quando nos fala sobre o sepulcro caiado. Quantas vezes temos visto homens desprovidos de qualquer compromisso doutrinário engendrarem esforços e arrebanharem seguidores pela ilusão de uma vestimenta ou de uma palavra envolvente? Impossível contar.

4. O sublime peregrino

Mas, para desespero desses lobos em pele de ovelhas, existe um senhor, debaixo das árvores, ao sopé das montanhas, à beira da águas, emitindo a todos os corações. Este senhor não usa qualquer distintivo, não veste nada diferente de qualquer outra pessoa. Mas sua voz rasga dimensões, rompe milênios, vence o tempo e dilata-se ao infinito; seu exemplo supera qualquer outra expressão que qualquer homem jamais possa ter. Jesus, amigos! Recitemos esse nome no altar mais íntimo de nosso coração. Que não durmamos um dia sequer, sem que repitamos a nós mesmos: Jesus, inspire-nos a cada instante de nossas vidas!

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena…”
Fernando Pessoa

Publicado em:A Missão do Nordeste

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